Inscrições Abertas em caráter de lista de interesse.

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Inscrições abertas (clique na imagem) em caráter de lista de interesse. Previsão de início: abril de 2014.

Informações da pesquisa



ESCRITA-FIAÇÃO:
o escrever como um modo de existir artífice


RESUMO




            O projeto apresenta uma proposta de pesquisa junto ao Instituto de Educação, da Universidade de Lisboa, Portugal, como parte do PROGRAMA INSTITUCIONAL DE DOUTORADO SANDUÍCHE NO EXTERIOR (PDSE), da CAPES. A proposta objetiva a ampliação dos estudos em uma importante face da pesquisa de doutoramento em curso, com a orientação do Prof. Dr. Jorge Ramos do Ó, conceituado pesquisador em Educação. Tomando por base as principais reflexões de Gilles Deleuze, Michel Foucault, Roland Barthes e Michel de Certeau sobre o ato de escrever, os estudos pretendem aprofundar a relação entre os modos de vida artífice e os modos de escrita, na investigação dos processos de subjetivação. Uma abertura à escuta do campo de pesquisa, apreciando a potência que se mostra e se inventa nas relações de um corpo-fazedor que escreve. Como parte do projeto submetido ao processo seletivo do Programa de Pós-Graduação em Educação da FACED/UFJF: O EDUCADOR-APRENDIZ E A APRENDIZAGEM DO CORPO: cartografias de uma oficina de fiação manual com professores, suas memórias da escola e registros nos cadernos-diários, o estágio favorece o adensamento da discussão teórica, tematizada na escrita de si, tal como formulada por Foucault, e permite o contato direto com a cultura da fiação artesanal, ainda viva em Portugal. A participação nos seminários de orientação “Pós-estruturalismo e escrita cientifica”, conduzidos pelo Prof. Jorge Ramos do Ó, possibilitará o aprofundamento da discussão acerca do pesquisar na imanência e sua escrita, iniciada desde o Projeto de Qualificação.

Palavras-chave: educação, escrita, leitura, pesquisa, artes-manuais, artes.









SUMÁRIO

1
SÚMULA.......................................................................................................
6
2
CRONOGRAMA DE ESTUDO E PESQUISA...........................................
7
2.1
Setembro.......................................................................................................
7
2.1.1
Escrita de Segunda Qualificação ................................................................
7
2.1.2
Campo............................................................................................................
7
2.2
Outubro.........................................................................................................
7
2.2.1
Escrita de Segunda Qualificação ................................................................
7
2.2.2
Campo............................................................................................................
7
2.3
Novembro......................................................................................................
7
2.3.1
Escrita de Segunda Qualificação ...............................................................
7
2.3.2
Campo............................................................................................................
7
2.4
Dezembro ......................................................................................................
8
2.4.1
Escrita de Segunda Qualificação ...............................................................
8
2.4.2
Campo............................................................................................................
8
2.5
Janeiro...........................................................................................................
8
2.5.1
Escrita de Segunda Qualificação ................................................................
8
2.5.2
Campo............................................................................................................
8
2.6
Fevereiro........................................................................................................
8
2.6.1
Escrita de Segunda Qualificação ................................................................
8
2.6.2
Campo............................................................................................................
8
2.6.3
Entrega relatório de estágio de Programa Institucional de Doutorado Sanduíche No Exterior (Pdse).....................................................................
8
3
ASPECTOS DA INVESTIGAÇÃO DO GRUPO DE PESQUISA PORTUGUÊS EM INTERFACE COM O PROJETO DE DOUTORADO EM CURSO ................................................................................................
9
3.1
Objetivo.......................................................................................................
9
3.2
Justificativa...................................................................................................
9
3.3
Conteúdo .......................................................................................................
10
3.3.1
A gramática... ...............................................................................................
10
3.3.2
Discurso ........................................................................................................
10
3.3.2.1
A escrita e o poder (Foucault, Barthes e Certeau) .........................................
10
3.3.2.2
Produção do discurso... ................................................................................
10
3.3.3
Redes e dependências intradiscursivas...........................................................
10
3.3.4
A reconstrução de uma formação discursiva (Foucault) ................................
10
3.3.5
A constituição do arquivo... .........................................................................
10
3.3.6
Disciplina versus ciência... ...........................................................................
10
3.3.7
O comentário: as narrativas maiores... ..........................................................
11
3.3.8
Antinomias do falar e do escrever (Certeau) .................................................
11
3.3.9
As antinomias do ler e do escrever (Barthes e Blanchot) ..............................
11
3.3.9.1
Autor .............................................................................................................
11
3.3.9.1.1
O autor como princípio de agrupamento/unidade/origem/coerência .............
11
3.3.9.2
Prática Oficinal .............................................................................................
11
3.3.9.2.1
A compreensão complexa da importância do estilo nas ciências humanas ...
11
3.3.9.2.2
A relação docente numa lógica de encadeamento permanente de textos ......
11
3.3.9.2.3
O método como uma utopia da linguagem e a assunção de uma escrita insistente, elíptica e canibal... .......................................................................
11
3.3.9.2.4
O seminário como setting e modelo objectivado da crítica ao modelo centrado na leitura-apropriação-comentário das metanarrativas. .................................
11
3.3.9.2.5
A escrita bífida e a inversão da hierarquia fala/escrita (Derrida) ...................
11
3.3.9.2.6
A escrita e a exigência da descontinuidade. A lei do crescimento da obra.....
11
3.3.9.2.7
Questionar é jogar-se na questão (Blanchot) ..................................................
11
3.3.9.2.8
O processo de escrita como entrada no jogo da différance. ..........................
11
3.3.10
Composição, encenação e compreensão do que não posso prever: a herança e o porvir como limiares da investigação crítica (Derrida) ..................................
11
3.3.10 
Uma escrita a duas mãos: o Anti-Édipo de Deleuze-Guattari  .......................
12
3.3.11
A escrita como um trabalho do significante, da frase e da palavra e do limite  ....
12
3.3.12
Endereço e destino .......................................................................................
12
3.3.13
A vida como obra de arte (Foucault, Deleuze) .............................................
12
3.4
Bibliografia do curso em Portugal .............................................................
12
4
A DIAGONAL PESQUISAR ENTRE A LEITURA A ESCRITA, UMA INTRODUÇÃO ÀS INQUIETAÇÕES ......................................................
14
4.1
Por que fiação? ............................................................................................
15
4.2
Incômodos de um pesquisar ......................................................................
15
5
ESCREVER ÀS VEZES É DISSOLVER-SE NA ESCRITA: TUDO O QUE NÃO SEI É MINHA VERDADE ......................................................
17
6
LEITURA SENSAÇÃO ..............................................................................
18
7
QUE INVENTA A LEITURA ....................................................................
21
7.1
Poderia uma leitura ser inventada? ............................................................
22
7.2
Leitura-experiência: máximo de intensidade .............................................
22
7.3
Leitura-dispositivo: múltiplos agoras .........................................................
23
7.4
Leitura-dobras: abrigos provisórios...........................................................
24
7.5
Leitura-eros e logos: fluídos corpóreos.......................................................
24
7.6
Leitura-cenários e vozes:  investigações......................................................
26
8
ESCREVER É PROCURAR ENTENDER.................................................
27
8.1
Os vestidos de Maria Amália........................................................................
27
9
FIAR A ESCRITA, TECER A ESCRITA, BORDAR A ESCRITA ..........
29
9.1
Fazendo-me ao me desfazer: escrita de si ou escrita do eu? ....................
30
10
FUI AO ARMARINHO: HÁ DE SE FALAR DE UMA METODOLOGIA .
32
10.1
Qualquer entrada é possível: desde que as saídas sejam múltiplas............
33

REFERÊNCIAS ...........................................................................................
35










1 SÚMULA



Projeto de pesquisa em curso: O EDUCADOR-APRENDIZ E A APRENDIZAGEM DO CORPO: cartografias de uma oficina de fiação manual com professores, suas memórias da escola e registros nos cadernos-diários.
Proposta:  Doutorado intercalar junto ao Instituto de Educação, da Universidade de Lisboa.
Docente coorientador no exterior:  Prof. Dr. Jorge Ramos do Ó.
Minicurrículo do coorientador: Professor do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e pesquisa temáticas relacionadas ao campo da História da Educação e da Pedagogia, da História da Cultura e da Teoria do Discurso de Michel Foucault. Publicações Ensino liceal (1836-1975). Lisboa: Ministério da Educação, 2009. Emergência e circulação do conhecimento psicopedagógico moderno (1880-1960): estudos comparados Portugal-Brasil. Lisboa: Educa, 2009. O Governo de si mesmo: modernidade pedagógica e encenações disciplinares do aluno liceal (último quartel do século XIX – meados do século XX). Lisboa: Educa, 2003.
Coleta de dados:  1 de setembro de 2013 a 28 de fevereiro de 2014.
Disciplinas a serem cursadas (4):
- Pós-estruturalismo e escrita cientifica (seminário de orientação, Prof. Jorge Ramos do Ó).
- História da Educação e Educação Comparada (docente Prof. Jorge Ramos do Ó).
- Seminário Temático I (docente Prof. Jorge Ramos do Ó, Prof. Joaquim Pintassilgo, Prof.   Feliciano Veiga, Prof. Justino Magalhães).
- Seminário de Projeto I  (docente Prof. Jorge Ramos do Ó).
Plano de pesquisa no exterior: Escrita-fiação: o escrever como um modo de existir artífice.
Resumo: O projeto apresenta uma proposta de pesquisa junto ao Instituto de Educação, da Universidade de Lisboa, Portugal, como parte do PROGRAMA INSTITUCIONAL DE DOUTORADO SANDUÍCHE NO EXTERIOR (PDSE), da CAPES. A proposta objetiva a ampliação dos estudos em uma importante fase da pesquisa de doutoramento em curso, com a orientação do Prof. Dr. Jorge Ramos do Ó, conceituado pesquisador em Educação. Tomando por base as principais reflexões de Gilles Deleuze, Michel Foucault, Roland Barthes e Michel de Certeau sobre o ato de escrever, os estudos pretendem aprofundar a relação entre os modos de vida artífice e os modos de escrita, na investigação dos processos de subjetivação. Uma abertura à escuta do campo de pesquisa, apreciando a potência que se mostra e se inventa nas relações de um corpo-fazedor que escreve. Como parte do projeto submetido ao processo seletivo do Programa de Pós-Graduação em Educação da FACED/UFJF: O EDUCADOR-APRENDIZ E A APRENDIZAGEM DO CORPO: cartografias de uma oficina de fiação manual com professores, suas memórias da escola e registros nos cadernos-diários, o estágio favorece o adensamento da discussão teórica, tematizada na escrita de si, tal como formulada por Foucault, e permite o contato direto com a cultura da fiação artesanal, ainda viva em Portugal. A participação nos seminários de orientação “Pós-estruturalismo e escrita cientifica”, conduzidos pelo Prof. Jorge Ramos do Ó, possibilitará o aprofundamento da discussão acerca do pesquisar na imanência e sua escrita, iniciada desde o Projeto de Qualificação.

2 CRONOGRAMA DE ESTUDO E PESQUISA

2.1 Setembro
Às terças-feiras
Participação nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica (orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às sextas-feiras
Disciplina
- História da Educação (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos sábados
Disciplina
Seminário Temático I (docente Prof. Jorge Ramos do Ó, Prof. Joaquim Pintassilgo, Prof.   Feliciano Veiga, Prof. Justino Magalhães).
2.1.1 Escrita de Segunda Qualificação
2.1.2 Campo
 Visita à Freixo de Espada à Cinta – Criação do bicho da seda e fiação artesanal da seda.

2.2 Outubro
Às terças-feiras
Participação nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica (orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às sextas-feiras
Disciplina
- História da Educação (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos sábados
Disciplina
Seminário Temático I (docente Prof. Jorge Ramos do Ó, Prof. Joaquim Pintassilgo, Prof.   Feliciano Veiga, Prof. Justino Magalhães).
2.2.1 Escrita de Segunda Qualificação
2.2.2 Campo
Visita a Bucos – Criação de ovelhas por mulheres e fiação artesanal.

2.3 Novembro
Às terças-feiras
Participação nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica (orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às sextas-feiras
Disciplina
- História da Educação (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos sábados
Disciplina
Seminário Temático I (docente Prof. Jorge Ramos do Ó, Prof. Joaquim Pintassilgo, Prof.   Feliciano Veiga, Prof. Justino Magalhães).
2.3.1 Escrita de Segunda Qualificação
2.3.2 Campo
Visita a Valpaços - Fiação artesanal de lã (Redondelo).

2.4 Dezembro
Às terças-feiras
Participação nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica (orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às sextas-feiras
Disciplina
- Educação Comparada (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos sábados
Disciplina
- Seminário de Projeto I  (docente Prof. Jorge Ramos do Ó).
2.4.1 Escrita de Segunda Qualificação
2.4.2 Campo
Seminário na Universidade do Porto “ A literatura do Impossível” – Docente Prof. Dra. Catarina Pombo Nabais
Visita à Casa de Trabalho do Nordeste e ao Atelier Amorinha Silvestre  – Tecelagem artesanal

2.5 Janeiro
Às terças-feiras
Participação nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica (orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às sextas-feiras
Disciplina
- Educação Comparada (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos sábados
Disciplina
- Seminário de Projeto I  (docente Prof. Jorge Ramos do Ó).
2.5.1 Escrita de Segunda Qualificação
2.5.2 Campo
Visita a São Miguel – Tecelagem e fiação

2.6 Fevereiro
Às terças-feiras
Participação nos seminários de orientação Pós-estruturalismo e escrita cientifica (orientação Prof. Jorge Ramos do Ó)
Às sextas-feiras
Disciplina
- Educação Comparada (docente Prof. Jorge Ramos do Ó)
Aos sábados
Disciplina
- Seminário de Projeto I  (docente Prof. Jorge Ramos do Ó).
2.6.1 Escrita de Segunda Qualificação
2.6.2 Campo
Visita ao Instituto Monsenhor Airosa, Braga – Tecelagem industrial histórica
2.6.3 Entrega relatório de estágio de Programa Institucional de Doutorado Sanduíche No Exterior (Pdse).



3 ASPECTOS DA INVESTIGAÇÃO DO GRUPO DE PESQUISA PORTUGUÊS EM INTERFACE COM O PROJETO DE DOUTORADO EM CURSO


3.1 Objetivo

            Trabalha-se em torno de um conjunto textos de vários autores relativos à emergência e à possibilidade de uma escrita inventiva. Não obstante a sua exuberante variedade disciplinar, teórica e empírica, os trabalhos de Barthes, Blanchot, Deleuze, Derrida ou Foucault foram atravessados, e muitíssimo animados, por uma semelhante intencionalidade: a de problematizar o estatuto e a função do autor, a de estabelecer estratificações discursivas e a de operacionalizar novos desdobramentos no seu interior. Acredita-se que, a partir desse seu labor específico, podem-se estabelecer outros níveis de compreensão e de tessitura do que possa ser uma escrita-crítica, ou seja, que antecipe o que, de todas as outras formas, estaria vedado ao pensamento académico. O seu contributo é outrossim fundamental para, numa lógica de auto-reflexividade, compreender de que modo a cultura escolar tem idealizado e simultaneamente bloqueado a generalização de uma atitude criativa em torno da produção de bens artísticos.

3.2 Justificativa

            Este conjunto de autores não cessa de colocar à nossa disposição uma multiplicidade de textos em que se assume a premissa de que nada pode existir fora da linguagem. Julgo que a evidência pós-estruturalista deve levar-nos a assumir que a prática da escrita académica não pode, também ela, exercer-se sem a compreensão do sentido estratégico – os infinitos jogos de poder e de verdade – do tecido de significantes que constitui toda a obra textual. Trata-se, assim, de refletir sobre um trabalho de deslocação que se exerce sobre o jogo de palavras. Deslocar-se na linguagem, conduzir-se pelo mesmo eixo do poder, mas para se chegar aonde não se é esperado; como se, em última instância, se admitisse que o texto contém em si também uma força que permite fugir à palavra, que se agrega indefinidamente, e nos impele para uma outra dimensão, para um lugar ainda não classificado, atópico; como se a língua se pudesse apenas combater no interior da própria língua.
            Isto supõe não um saber mas, antes, uma dinâmica institucional onde um saber e a criação se possam exercer por meio da livre troca entre os participantes. As aulas terão como princípio e fim os processos construtivos da escritura. Em vez de disciplina, dever-se-ia com mais propriedade falar aqui em seminário, no sentido que lhe dão Barthes e Certeau, isto é, um espaço de circulação e comentário horizontal de textos, de produção da diferença interpretativa, de uma fala exercida a partir de notas individuais tomadas a partir da palavra vizinha e de fragmentos de textos múltiplos. Presume-se, assim, que essa teatralização da escrita, esse estado de enunciação dos alunos, fornece as condições objectivas para a maternagem e a tessitura mesma de uma narrativa pessoal que seja capaz de se referir às regras de construção das formações discursivas que nos habitam e, ao mesmo tempo, possa partir de textualidades várias, absorver, canibalizar e originalizar-se como texto. O papel do professor será pois, apenas, o de orientador da sessão, aquele que fornece a ocasião, aquele que não fala porque sabe, mas que fala tão só porque escreveu e escreve.

3.3 Conteúdo

3.3.1 A gramática da escola moderna e os bloqueios que enfrenta uma nova sensibilidade textual
3.3.2 Discurso
3.3.2.1. A escrita e o poder (Foucault, Barthes e Certeau)
3.3.2.2 Produção do discurso: procedimentos de controlo, selecção, organização e redistribuição
3.3.3 Redes e dependências intradiscursivas, interdiscursivas e extradiscursivas
3.3.4 A reconstrução de uma formação discursiva (Foucault):
(i) os limites e as formas do dizível;
(ii) os limites e as formas da conservação dos discursos;
(iii) os limites e as formas da memória;
(iv) os limites e as formas da reactivação e apropriação dos discursos
3.3.5 A constituição do arquivo como a afirmação de um poder arcôntico (Derrida, Foucault)
3.3.6 Disciplina versus ciência: os princípios de rarefacção do discurso e a vontade de verdade na modernidade.
3.3.7 O comentário: as narrativas maiores (textos jurídicos, religiosos, literários e científicos)
3.3.8 Antinomias do falar e do escrever (Certeau)
3.3.9 As antinomias do ler e do escrever (Barthes e Blanchot)
3.3.9.1 Autor
3.3.9.1.1 O autor como princípio de agrupamento/unidade/origem/coerência do discurso (Foucault, Barthes, Derrida):
(i) a individualização do autor, a noção de escrita e a categoria crítica “o homem-e-a-obra”;
(ii) as quatro características da função autor: o livro como objecto de apropriação; o fim do anonimato do autor; a atribuição de um discurso a um autor; o valor, a coerência conceptual e a unidade estilística do autor;
(iii) a posição transdiscursiva do autor
(iv) a morte do autor
3.3.9.2 Prática Oficinal
3.3.9.2.1 A compreensão complexa da importância do estilo nas ciências humanas (Barthes)
3.3.9.2.2 A relação docente numa lógica de encadeamento permanente de textos (Barthes)
3.3.9.2.3 O método como uma utopia da linguagem e a assunção de uma escrita insistente, elíptica e canibal: notas, citações, colagens e suplementos como o tecido da intertextualidade.
3.3.9.2.4 O seminário como setting e modelo objectivado da crítica ao modelo centrado na leitura-apropriação-comentário das metanarrativas (Barthes, Certeau):
A reinversão da supremacia civilizacional do ler sobre o escrever (Barthes)
(i) o artesanato do estilo
(ii) a escrita e o silêncio
(iii) a escrita e a revolução
3.3.9.2.5 A escrita bífida e a inversão da hierarquia fala/escrita (Derrida)
3.3.9.2.6 A escrita e a exigência da descontinuidade. A lei do crescimento da obra (Blanchot)
3.3.9.2.7 Questionar é jogar-se na questão (Blanchot)
3.3.9.2.8 O processo de escrita como entrada no jogo da différance. O incalculável. O imprevisível (Derrida)
3.3.10 Composição, encenação e compreensão do que não posso prever: a herança e o porvir como limiares da investigação crítica (Derrida)
3.3.10  Uma escrita a duas mãos: o Anti-Édipo de Deleuze-Guattari
3.3.11 A escrita como um trabalho do significante, da frase e da palavra e do limite (Certeau)
3.3.12. Endereço e destino
3.3.13 A vida como obra de arte (Foucault, Deleuze).

3.4 Bibliografia do curso em Portugal

Barthes, Roland (1974). O prazer do texto. Lisboa: Edições 70.
Barthes, Roland (1979). A Lição. Lisboa: Edições 70.
Barthes, Roland (1990). S/Z. Lisboa: Edições 70
Barthes, Roland (2003). Roland Barthes por Roland Barthes. São Paulo: Estação Liberdade.
Barthes, Roland (2004a) O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes.
Barthes, Roland (2004b) O grau zero da escrita. São Paulo: Martins Fontes.
Barthes, Roland (2007). Crítica e Verdade. Lisboa: Edições 70
Benjamin, Walter (1992). Sobre arte, técnica, linugagem e política. Lisboa: Relógio d’Água
Benjamin, Walter (1992). Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG.
Blanchot , Maurice(1984). O livro por vir. Lisboa: Relógio d’Água.
Blanchot, Maurice (2001). A conversa infinita. II vols. São Paulo: Escuta
Certeau, Michel de (1994). A invenção do quotidiano. II vols. Petrópolis: Vozes.
Certeau, Michel de (2007). A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Deleuze, Gilles (2003). Conversações. Lisboa: Fim de Século.
Deleuze, Gilles & Guattari, Félix (1992). O que é filosofia. Lisboa: Editorial Presença
Deleuze, Gilles & Guattari, Félix (2004). O Anti-édipo: Capitalismo e esquizofrenia1. Lisboa: Assírio e Alvim.
Deleuze, Gilles & Parnet (2004). Diálogos. Lisboa: Relógio d’Água.
Derrida, Jacques (1978). A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva
Derrida, Jacques (2001a). Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará.
Derrida, Jacques (2001b). Posições. Porto Alegre: Autêntica.
Derrida, Jacques (2004). Sob palavra: instantâneos filosóficos. Lisboa: Fim de Século.
Derrida, Jacques (2005). Aprender finalmente a viver. Coimbra: Ariane Editora.
Derrida, Jacques & Roudinesco, Elisabeth (2004) De que amanhã… Diálogo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Foucault, Michel (1969). L’archéologie du savoir. Paris: Gallimard.
Foucault, Michel (1991). Politics and the study of discourse. In G. Burchell, C. Gordon & P. Miller (Eds.). The Foucault effect: studies in governmentality (pp. 52-72). Londres: Harvester Wheatsheaf.
Foucault, Michel (1992). O que é um autor? Lisboa: Vega
Foucault, Michel (1997). A ordem do discurso. Lisboa: Relógio d’Água.
Foucault, Michel (2004). A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes.
Frago, Antonio Viñao (1996). Lenguaje e realidad: El discurso histórico y su aplicación al ámbito histórico-educativo. Anales de Pedagogía, 14, 157-214.
Layder, Derek (1997). Modern social theory: Key debates and new directions. Londres: University College of Londres Press.
Lyotard, Jean-François (2003). A condição pós-moderna. Lisboa: Gradiva
Peters, Michael (2000). Pós-estruturalismo e filosofia da diferença: Uma introdução. Belo Horizonte: Autêntica.
Popkewitz, Thomas S., Franklin Barry M & Pereira, Miguel A (Eds.), Cultural history and education. New York: Routledge & Falmer.
Silva, Tomaz Tadeu da (2000). Teoria educacional e educação: Um vocabulário crítico. Belo Horizontes: Autêntica













4 A DIAGONAL PESQUISAR ENTRE A LEITURA A ESCRITA, UMA INTRODUÇÃO ÀS INQUIETAÇÕES



...É o homem carregado do ser da linguagem (dessa “região informe, muda não significante, onde a linguagem pode libertar-se”, até mesmo daquilo que ela tem a dizer).
Deleuze, citando Foucault (1986/2008, p. 142).


            O estágio de doutorado sanduíche no Instituto de Educação, da Universidade de Lisboa, Portugal, configura-se como importante etapa da pesquisa, pois concentra-se nos processos construtivos da escritura em seu agenciamento com o fazer-manual e faz isso, inventando a própria escrita da pesquisa como um fazer-manual fiador. Assim, a pesquisa pretende artistar uma escrita acadêmica e científica, fazendo-a devir-arte.
            O estágio se dará após a conclusão da investigação de campo, prevista para o primeiro semestre de 2013, onde, na aprendizagem da fiação manual, se investigará a aprendizagem do corpo, em especial, das atividades manuais em diagonal com os ditos e escritos registrados nos cadernos-diários dos participantes. Com o campo da pesquisa concluído, caberá ao pesquisador dar voz ao vivido, agenciando-o com o referencial teórico, o que acontecerá durante a escrita da Segunda Qualificação de Doutorado, prevista para abril de 2014. A proposta de estudos na Universidade de Lisboa inclui um mergulho nas dinâmicas da escrita científica, ampliando as reflexões sobre o texto acadêmico e suas implicações nos modos de subjetivação, em especial, no que diz respeito à escrita como modo de existir. Por isso, pretende-se intensificar a escrita da Segunda Qualificação no período de estágio PDSE.
            Além da discussão acerca da escrita da tese, exercitada durante a escrita da Segunda Qualificação, o estágio, junto ao Instituto de Educação, poderá se configurar como importante suporte de adensamento do referencial teórico, revisitando autores de referência, agora no contado com outro orientador e seu grupo de pesquisa, ampliando as possibilidades de crítica.
            Em paralelo aos estudos na Universidade de Lisboa, a estada em Portugal, prevê a visita a oficinas, ateliês e fazendas que vivem, ainda hoje, da criação de bicho-da-seda, de ovelhas para a fiação artesanal e a tecelagem manual. As visitas permitirão um mergulho na tradição artesanal portuguesa, fazendo vibrar aspectos das oficinas e dos cadernos diários dos aprendizes. O contato com essa cultura ancestral enriquecerá a o conhecimento da dinâmica das oficinas e seus pensares, aumentando a possibilidade de agenciamento entre os ditos, escritos e vividos do campo de pesquisa.

4.1 Por que fiação?

            Entre as artes oficineiras que seriam possíveis de serem cartografadas em uma pesquisa sobre o fazer do corpo e sua voz, a menos praticada, apesar de muito conhecida, é a fiação. Na fiação, o aprendiz se vê diante da matéria-bruta. Seu trabalho se realiza diretamente entre o corpo e o material: fibras naturais, cardas e fusos. Porém, diferentemente de outros materiais que também colocam o corpo-aprendiz em contato com a matéria-bruta, a fiação não se presta à representação, à figuração. Na fiação, não há como modelar uma forma figurada ou fazer um desenho riscado, como se faz, por exemplo, com argila ou pedra. O que se apresenta em um fio é o movimento do corpo do aprendiz, sua habilidade, sua plasticidade em ação, nada mais. Poderia dizer que a fiação desnuda o artífice e torna visível, materialmente, o corpo-fazedor. É desta forma que entende-se a escolha desta técnica artesanal na composição de um dispositivo-oficina agenciador de uma pesquisa que cartografa o corpo-fazedor e seus dizeres.

4.2 Incômodos de um pesquisar

            Incômodo com o valor das artes na educação. Incômodo com o lugar das artes-manuais na vida, na escola, na educação. Incômodo com o valor-lugar do feminino e suas manualidades. Incômodo. Incômodo com a insistência de estudar-se como aquisição. Incômodo com uma leitura definidora. Com uma leitura tradução. Lê-se em nome de? Lê-se em nome de interesses superiores, civilizatórios?  Só? Seria possível ler produzindo? Seria possível ler e não “ler compreendendo”? Desleitura. É possível agramaticar a leitura?  Ler para calar, para incertar, para desconcentrar. Ler para desler. Ler para desler-se. Leitura produção. Ler como agenciamento maquínico. Seria possível? Seria possível pesquisar na invenção de agenciamentos maquínicos, produção de máquinas intensivas, de vida intensiva? Seria possível inventar leitura? Seria possível inventar leitura de texto científico? De texto filosófico? Inventar no sério da leitura e seus estares apoéticos? Ao ler, está-se sempre buscando significantes? Ao ler, está-se sempre buscando os ques és? Os paraquês? Os paraquês objetivados, justificados, negritados em fontes certas. É possível ler fora de uma leitura definidora? É possível ler sem função, sem para quê? Ler no grito. Produzir-se em uma leitura dionisíaca, uma leitura de maré alta. Dar vazão ao fluxo dionisíaco na leitura. Constituir um mau caminho. Ler como possessão. Leitura possessão. Ler uma leitura trágica: vivida antes de ser pensada. Ler uma leitura de má vontade. Ler como tempestade no abismo. Leitura abismo, produzindo vertigem. Leitura abismo, provocando incômodos. Incômodo de leitura que escreve. Incômodo com uma escrita linear para uma leitura linear. Escrita-leitura científica pré-programada. Incômodo com um escrever sobre para se ler sobre. Um escrever de. Um ler do. Incômodo de escrever. Escrita incômoda. Escrita incômodo. Escrever para inventar. Escrever para artistar. Escrever para viver. Escrever para conhecer. Incômodos múltiplos de um pesquisar. De um escrever. De um estudar. E, assim...

Tomar questões do primeiro projeto de pesquisa.
Beber questões encontradas nas leituras.
Descobrir questões imbricadas na pesquisa.
Inventar questões agenciadas com a vida.
Produzir questões incômodas.
Maquinar incômodos.

Tomar, beber, descobrir, inventar.
Agenciar. Produzir. Imbricar. Maquinar.
Incomodar.
Questões.
Incomodações.
Ações.
Pesquisa.





5 ESCREVER ÀS VEZES É DISSOLVER-SE NA ESCRITA: TUDO O QUE NÃO SEI É MINHA VERDADE


Gostaria que um livro [...] esse objeto-evento, quase imperceptível entre tantos outros, se recopiasse, se fragmentasse, se repetisse, se simulasse, se desdobrasse, desaparecesse enfim sem que aquele a quem aconteceu escrevê-lo pudesse alguma vez reivindicar o direito de ser seu senhor, de impor o que queria dizer [...] (FOUCAULT, 1972/2010, viii).

           

            Ler como declaração. Declaração de amor à escrita. Amor apaixonado, que se quer conflito. Leitura guerra. Leitura mantida em fogo brando, cozido. Amor de papel e bits. Leitura fragmento, pelo meio. Fractal. Explosões intensivas na celulose e na tela. Intempestiva, sempre. Espalhada pelas fibras todas, pelas células todas, em suas finitas e ilimitadas circularidades. Infinitude viva. Carne, fome e sede. Leitura canibal. Revolução molecular, invasão territorial. Leitura do tornar-se escrita. Leitura do tornar-se, do desser-se. Leitura que dessubjetiva e subjetiva escrita.
            Ler como morte, como vida. Como mortalha-viva. Ler como fluxo, incessante pedido de passagem. Maré que vaza. Maré que baixa.

Quantos seres sou eu para buscar sempre do outro ser que me habita as realidades das contradições? Quantas alegrias e dores meu corpo se abrindo como uma gigantesca couve-flor ofereceu ao outro ser que está secreto dentro de meu eu? Dentro de minha barriga mora um pássaro, dentro do meu peito, um leão. Este passeia pra lá e pra cá incessantemente. A ave grasna, esperneia e é sacrificada. O ovo continua a envolvê-la, como mortalha, mas já é o começo do outro pássaro que nasce imediatamente após a morte. Nem chega a haver intervalo. É o festim da vida e da morte entrelaçadas[1].


 “Sim sou um ladrão de pensamentos...”
 (DELEUZE; PARNET, 1996/2004, p. 17, citando Bob Dylan).




6 LEITURA SENSAÇÃO


O pensamento não tem lugar, ele deriva de todas as paragens, nasce das dobras de qualquer circunstância, da invenção de um conceito ou do exercício do próprio pensamento. Pensar significa dar funcionamento às coisas, deslocá-las ou atravessá-las com significados outros, pensamentos outros (Oliveira, 2007).

           
            É domingo. No parque as crianças brincam soltas ao sol enviesado da tarde de outono. Um menino sopra bolhas de sabão.  Ao fazê-lo, observa-as uma a uma até que subam e explodam no ar. Quando isto acontece, o menino sorri, fazendo um arco ascendente com o canto da boca. Só então, mergulha o pincel circular novamente no pequeno pote e sopra uma nova bolha. A leveza da bolha, o olhar observador, o sorriso breve, o movimento calmo que repete a operação com interesse. Qualidades de um menino no parque, num domingo de sol morno e suave. Qualidades impressas em texto lido em um domingo em que, talvez, num parque, um menino sopre bolhas e sorria.
            Queria ter sabido escrever este projeto  feito poema de livro infantil, daqueles que a gente lê para o filho antes de dormir, com voz baixinha, quase sussurrada, pensando em preparar o sono, em inspirar o sonho. Queria ter podido escrever assim para tentar dar voz à sensação que me produziu a leitura de um texto. Texto de uma área desconhecida, na qual meu escrever crítico pouco pode contribuir. No entanto, achei que, talvez, fosse uma oportunidade para deter-me um pouco mais perto de algumas inquietações que tenho sobre um texto e sua recepção.
            Não se pretende aqui falar de uma teoria ou de uma estética da recepção, a partir de teóricos como Jauss (1979), Barthes (1987), Hall (1981), Eco (1979) e outros dedicados às temáticas da leitura, do leitor e seus modos, mas tão somente, deixar-se envolver pela sensação de um texto e tentar fazer voz desta sensação.
            Que sensações criam um texto? Que notas musicais ouvimos no som de um texto? Cores, formas, movimentos. Que artes plásticas se instalam pelas forças disparadas na leitura de um texto? Questões. Indagações inquietas. Quem sabe, a partir destas perguntas, poderia se começar um exercício de problematização que permita indagar, na perspectiva das filosofias da diferença, como se dão as maneiras de ler sem a expectativa do entendimento que, quase sempre, traduz uma vontade de verdade?
            Quando se lê um texto na academia como referência teórica, pretende-se objetivar e instrumentalizar a leitura, apontando conceitos, valorizando passagens bem explicitadas, avaliando a pertinência do que se lê com o que se pesquisa, atento à coerência e a coesão. Mas seria este trabalho instrumental isento da produção de sensações? Caberia pensar sensações a partir de um texto científico? A partir do referencial teórico de uma pesquisa? É possível isentar-se de sensações na leitura?

[...] uma boa maneira de ler hoje em dia, seria tratar um livro como se ouve um disco, como se vê um filme ou uma emissão televisiva, como se recebe uma canção: qualquer tratamento do livro que exija um respeito especial, uma atenção de outro tipo, vem do passado e condena definitivamente o livro. Não há nenhuma questão de dificuldade nem de compreensão: os conceitos são exatamente como sons, cores ou imagens. São intensidades que vos são ou não convenientes, que passam ou não passam. Pop filosofia. Não há nada a compreender, nada a interpretar. [...] (DELEUZE; PARNET 1996/2004, p. 14).

            Ler um texto científico ou filosófico como quem escuta uma música, como quem pinta um quadro. Há alguma facilidade no fato de se tratar este texto de um assunto ignorado completamente. Isso pode possibilitar certa fertilidade na pesquisa de suas sensações, pois é um texto que, a princípio, não se pretende – e nem se poderia – querer entender. A leitura aqui não seria então mais uma questão de entendimento, de acompanhar atenciosamente o encadeamento dos argumentos, de comparar ideias, interpretar conceitos. A leitura aqui seria um contato, um aproximar-se do desconhecido e abrir-se à sensação, ao encontro com o modo, com o funcionamento de uma escrita. Estar junto à escolha do léxico, à poética das orações, ao ritmo dos parágrafos e criar sensações com elas. Seriam as sensações de um texto aquém e além de seu entendimento? Criar sensações com a leitura pode ser abrir o corpo à letra, fazer corpo-letra? Perguntas que, neste projeto, se pretende produzir e manter.
            Também aqui não se trata de perguntar sobre o prazer ou desprazer de ler. Não se quer falar de sentimentos desenvolvidos a partir de uma leitura, de impressões causadas ou sofridas, mas de pensar a leitura como intensidade, força que devém, que se passa, experiencia. Tomar a escrita deste projeto como sensação, pensar nela artistadamente, visto que, cito Pelbart (2009):  "A sensação é a tradução pictórica [...] da força (p. 93).
            Se o texto lido é sensação, tradução de força, que forças se fizeram mover no tato dele? Que forças foram disparadas pelo lido? Talvez fosse possível pintar tais forças, esculpi-las, tecê-las, mas, escrevê-las, sem, tão somente, descrevê-las, é ação insabida. Neste projeto escreve-se do que não se sabe, não se sabe falar das sensações na leitura. Por isso, escreve-se do que se fez questão ao ler e escrever o próprio projeto. Escrita do que incertou. Leitura incerta. Escrita da pergunta-sensação, incertada de poder dizer da sensação do dito, do lido. Incertada de poder escrever sem querer fazer entender.
            Talvez se possa tentar escrever do lido com um som, uma cor, criar dispositivo-escrita disparador de sensação, em um exercício que se quer com mais vagar, exercendo lentidões, desativando o entendimento, o reconhecimento, encompridando pensamentos, até fazê-los desaparecer em outros pensares.
            Pensares-leveza de bolhas que flutuam no céu do outono. Pensares-sons em silêncios-bolhas nas tardes de domingo. Pensares lentos, sentidos-bolhas em texto que compõe ar, devém cor. Texto-bolha. Abrigo arredondado, provisório, que, em algum momento, explode, fazendo sorrir.
            A bolha-texto lê e escreve. Escri-leitura. Bolha-sensação que faz amarelo-transparente, cor aerada, clara, que deixa esquecer que não se sabe e desloca o pensar para aquilo que se mostra processo na organização de conceitos. Inventa modos de perceber que expõem relações de ideias com a simplicidade do soprar o ar pelo arco ensaboado. Bastos Tigre (1882-1957), escritor pernambucano, dizia que “nada mais fácil que escrever difícil; na simplicidade está a complicação que dificulta o ofício”. A simplicidade amplia sensações? A simplicidade de um texto desloca, tira do primeiro plano, a vontade de entendimento?
            A simplicidade textual do pesquisador na escrita acadêmica pode produzir bolha-sensação? Bolha de sabão? Da mesma que o menino sopra domingo no parque. Quando a bolha forma, sobe no ar, suspende o tempo, infinita o espaço no dentro da bolha. No dentro da bolha, não há vento, não há barulho. O silêncio envolvente da bolha faz eternidade, instante. A bolha-texto do pesquisador da educação pode fazer lentidão, permitir o estar próximo do desconhecido com a naturalidade do familiar. O texto-ar do pesquisar pode deixar o tato atuar com leveza. Fazer soprar movimento-ar, dando, inesperadamente, a pensar. Ler, então compõe-se amistoso, mas faz mover e mudar. Enfim, a leitura quando explode, se apresenta ao entendimento por um outro lugar.

7 QUE INVENTA A LEITURA?

Ora, o que estou chamando de marcas são exatamente estes estados inéditos que se produzem em nosso corpo, a partir das composições que vamos vivendo. Cada um destes estados constitui uma diferença que instaura uma abertura para a criação de um novo corpo, o que significa que as marcas são sempre gênese de um devir (ROLNIK, 1993, § 5).

            Permanente exercício. Constante investigação inconclusa. Movimento repetido na arte do corpo. Laboratório-experimentação. Que inventa a leitura? Quem se inventa na leitura? O que se inventa com a leitura?

De fato, a atividade leitora apresenta [...] todos os traços de uma produção silenciosa: flutuação através da página, metamorfose do texto pelo olho que viaja, improvisação e expectação de escritos, dança efêmera. [...] [O leitor] insinua as astúcias do prazer e de uma reapropriação no texto do outro: ali vai caçar, ali é transportado, ali se faz plural como os ruídos do corpo. Astúcia, metáfora, combinatória [...] (CERTEAU, 1990/2009, p. 48).

            A leitura mais próxima do corpo, uma leitura-corpo. Fazendo do leitor, um aventureiro tecelão: “Quando eu fico a idealizar a imagem de um leitor perfeito, acaba surgindo sempre um monstro de coragem e curiosidade, e além disso, algo flexível, cheio de manhas, precavido, um aventureiro nato, um descobridor (NIETZSCHE, 1888/2009, p. 76). O fio, a linha tramando o tecido incerto da leitura.  A leitura como carne do corpo, como resistência ao mecanismo de repetição do mesmo que o cotidiano naturalizado produz. O fio da leitura como tato-experiência, como experiência de corpo.

É um modo de exercer a escrita em que ela nos transporta para o invisível, e as palavras que se encontra através de seu exercício, tornam o mais palpável possível, a diferença que só existia na ordem do impalpável. Nesta aventura encarna-se um sujeito, sempre outro: escrever é traçar um devir. Escrever é esculpir com palavras a matéria-prima do tempo, onde não há separação entre a matéria-prima e a escultura, pois o tempo não existe senão esculpido em um corpo, que neste caso é o da escrita, e o que se escreve não existe senão como verdade do tempo. Uma outra imagem ainda, para tentar dizer a mesma coisa: escrever é fazer letra para a música do tempo; e é esta música, sempre singular, que nos indica a direção da letra, que seleciona as palavras que transmitam o mais exatamente possível seus tons, seus timbres, seus ritmos, suas intensidades (ROLNIK, 1993, § 22).


7.1 Poderia uma leitura ser inventada?
           
            E a leitura da escrita?  Não deveria trazer potência mesma da escrita? A leitura, ela mesma, não deveria afirmar de si? A leitura também é invenção? Se lermos com um determinado objetivo, não estaremos perdendo o ato mesmo da leitura?  Nesse sentido, a leitura não pareceria constituir "o ponto máximo da passividade" (CERTEAU, 1990/2009, p. 48)? Inventar um mar. Produzir um mar na leitura. Um mar ilegível.
            A escrita-experiência-ilisível que faz esquecer o rumo, que inverte a bússola, que neblina o porto, faria o leitor esquecer-se, incomodar-se, permitir-se outro. Como o cardador de três salas de lã, no contínuo da segunda sala, o fio futural está esquecido, resta o barulho da carda, resta o resto do cisco, resta o sentindo-sensação do fazer-experiência-outra. Navio esquecido do porto, viagem longa no cubo do tempo. Presença, portal de memória no-do corpo. Do que se trata mesmo a escrita? Texto-escrita-leitura que leva a paragens outras, vaza do texto num fora repleto de textos outros, portal de memória do corpo que lê.  Leitura curva, incerta, incesta. Leitura em dobras de um inventar Leitura em dobras de um inventar escritas.

As dobras e redobras estão sempre cheias.
Há as dobras simples e as bainhas com nós e costuras.
Drapeados com pontos de apoio.

Poderia um princípio ser inventado?

Somos sempre remetidos a um novo tipo de correspondência ou de expressão mútua, “entre’expressão”, dobra conforme dobra.

Em primeiro lugar, devo ter um corpo, porque há o obscuro em  mim[2].

7.2 Leitura-experiência: máximo de intensidade

            Pretende-se, neste exercício, caracterizar uma das maneiras de ler que não se quer uma leitura de um discurso verdadeiro e estável, pois visa inventar na leitura um mundo deveniente. Uma maneira de ler em devir, que ultrapassa questões de entendimento, instalando uma estética da leitura.  Uma leitura que inclui o vivível, o sentível e, contraditoriamente, aproxima-se ao máximo do impossível, do invivível, do indizível do que se lê. Uma leitura que é escrita. Contradição que quer deixar vazar ao máximo o intensivo paradoxal da experiência de leitura-escrita. Diz Foucault “Para Nietzsche, Bataille, Blanchot [...] a experiência é tratar de alcançar certo ponto de vista que esteja o mais próximo possível do não vivível. O que requer o máximo de intensidade e, ao mesmo tempo, de impossibilidade” (CASTRO, 2009, p. 161). Uma leitura que quer imprimir-se no dito, tirar das palavras grafadas no papel, o acontecimento, o instante impronunciável da experiência e, quem sabe, tornar-se ela mesmo experiência. Leitura-experiência. Não uma experiência como um olhar reflexivo sobre o vivido para captar significações, para dar sentido ao vivido e garantir a consciência do não-erro futuro, uma outra forma de experiência “já não aquela que funda o sujeito, mas como forma de dessubjetivação” (Idem). Leitura dessubjetivação. Desleitura.

7.3 Leitura-dispositivo: múltiplos agoras

            Essa maneira de ler que se aspira caracterizar aqui, se apresenta também como um espaço onde tem lugar o acontecimento. Acontecimento como efeito que celebra a experiência, no disparar do dispositivo. Uma maneira de ler intempestiva. Uma maneira de ler em êxtases efêmeros. Em fractais de letras no papel. Uma leitura que se quer escrita. Que ser quer fazer experiência, se configurar em dispositivo. Dispositivo de leitura. Dispositivo de leitura que quer tornar-se escrita. Comer a própria carne. Canibalizar-se. Dispositivo pensado junto a Foucault (1979/2010), como um conjunto heterogêneo que pode englobar variados discursos e ações. “[...] O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre esses elementos” (p. 244), reúne uma “série de práticas que produzem efeitos” (KASTRUP; BARROS, 2009, p. 81) e que são explicitados materialmente. A materialidade da leitura carnando-se, catabolizada pela escrita.
            Leitura-escrita  engendrada como dispositivo, lugar de ação que coloca à mostra os processos de subjetivação e dessubjetivação, entendidos como relações de força si-mundo. Além disso, entre os elementos heterogêneos presentes em todo dispositivo, estão também os múltiplos agoras. Múltiplos agoras da leitura, movimentos que estão sempre acontecendo quando parece que uma só coisa acontece e que, em uma leitura tomada como discurso da razão, são ignorados. Cala-se os múltiplos agoras para produzir efeito de único, de estável, de verdadeiro. Cala-se o corpo que lê, submetendo-o ao saber escrito. Cala-se o leitor, aprisionando-o em um tempo único. Mas dos dedos que seguram o lido escapam tintas que vazam para um papel outro. Escrevem os lidos pelo avesso, dejetam os lidos, purgando escritos que corroem as correntes da verdade, do saber, do conhecimento, do único. Politintas, polivozes, poliditos escritos. Politudos atordoando a razão, destronando a razão, canibalizando a própria mão que escreve sem razão.

7.4 Leitura-dobras: abrigos provisórios

            Antes de se inventar uma dobra para investigar de que razão se está tratando, faz-se uma dobra para dizer da dobra. A noção de dobra com a qual operamos é entendida em um de seus aspectos: o de fazer surgir uma singularidade. Dobra como invenção provisória de um mundo. Dobra surgida de um movimento de forças que se dobram sobre si mesmas, invaginam e criam um espaço, um lugar, configurando provisoriamente uma forma que, assim, constrói, momentaneamente, um abrigo. Abrigo-útero, se movente. Abrigo-prisão, se fuga do caos. Abrigo-morte, se permanente. Essa dobra pode produzir outras tantas dobras. São pregueados, drapeados, plissados, franzidos, movimentos que se fazem nos fluxos e forças, produzindo mundos dobrados uns sobre os outros. Sempre singulares, sempre múltiplos, sempre móveis e moventes. Por exemplo, agora: as forças desse texto, no fluxo desse parágrafo, dobram-se para dizer da dobra. Aí, dobrar-se-ão novamente para construir uma forma provisória de dar língua ao modo como se entende razão. Depois, desdobrar-se-ão outras vezes, em movimentos contínuos e sempre variáveis, para inventar um texto, ele mesmo, uma dobra, um modo provisório de dizer de um mundo em dobras.

7.5 Leitura-eros e logos: fluídos corpóreos

            Agora, o texto se dobra novamente para investigar em qual sentido estamos nos referindo à razão, para, então, tentar mostrar que uma possível leitura-experiência canibal, aproximada de uma dimensão uterina do fazer, escapa a um discurso racional. Racional no sentido apontado por Clareto, ao se referir

[...] à razão, e à racionalidade, como gênero ocidental, uma produção da cultura ocidental, com suas raízes na Grécia Antiga, quando do nascimento da filosofia que passou a substituir os mitos: “em nome da razão, os filósofos anunciam a racionalidade da vida, para além do fluir das sensações, do passar dos sentimentos, do capricho das emoções” (LARA, 1991, p. 35).  Para Nietzsche, aí começa a decadência da cultura ocidental, com um racionalismo crescente que tem, para ele, a figura de Sócrates como emblema. Segundo o filósofo alemão, a “razão tirânica” veio para dominar os “instintos contraditórios”, separando e opondo forças complementares entre si como: Apolo (deus da clareza, da harmonia e da ordem) e Dionísio (deus da exuberância, da desordem e da música) e com isso  promovendo  a  “separação  entre  o  trabalho manual e o intelectual, entre o cidadão e o político, entre o poeta e o filósofo, entre Eros e Logos” (LEBRUN, 1999, p. 6). Com essa separação, o mundo grego – e de resto todo o mundo ocidental herdeiro de suas tradições – teria inaugurado “a época da razão e do homem teórico” (p. 9). Antes disso, na época da Grécia Trágica, não existiam tais dicotomizações, não havia, pois, necessidade de ressaltar a razão. Eros e Logos não eram opostos, mas complementares (2003, p. 3).

            Essa razão, a que se refere Clareto, parece isolar uma dobra da experiência para poder dar língua a ela. Reduz para poder representar. Ignora a multiplicidade dos agoras para poder intectualizar o lido.  Higieniza o lido, exclui dele sua erótica, sua dimensão deveniente. Esteriliza para poder fazer do ler, ouvido único. E faz isso, porque, ao invés de entender o lido como experiência, como dobra, como passagem, como provisório, como múltiplo, o pensa fixo, definitivo, o pensa como verdade.
            Aqui, propõem-se exercício outro. O exercício de falar de uma leitura que tenta vazar da razão, que procura escapar ao mundo da não-contradição, da univocidade, da verdade. Mundo esse regido pelo intelecto e suas leis lógicas inequívocas. Aqui, se quer uma leitura da equivocidade, que lê os múltiplos uns do vivido, inventa-se na sua excessividade, na sua complexividade. Uma leitura fora da ordem dos possíveis. Uma leitura não para entender o que não sabemos, “mas para sentir o que não sabemos” (LEVY, 2011, p. 21). Uma leitura mentira. Que se sabe mentira. Que se lê mentira. Que, quando se acredita, se acredita de tanto mentir, mentir até inventar uma realidade, até dobrar o próprio lido e fazer dele um escrito.
            Na leitura que se diz aqui, o que se pretende é macular a episteme, impregnando-a com os fluídos corpóreos da doxa, fazendo da leitura uma profanação, esgarçando o tecido do lido pelo fio do vivido, onde nada sempre é, onde tudo sempre devém. Um lido que pretende raspar, arranhar, esgarçar, fazendo ranhuras no intelectivo homogêneo, fragmentando-se. Um lido que pretende estabelecer uma rede entre elementos heterogêneos, presentes nos múltiplos agoras, fragmentos de leituras muitas, espalhadas, dispersadas, desconcentradas. Leituras invadindo a carne, provocando a mão a vazar a tinta. Leitura que se quer escrita. Elementos que se contradizem, que ocupam o mesmo lugar no espaço, que não se dão a ser provados, a ser comprovados. Leitura-escrita. Elementos improváveis, impossíveis. Elementos que não coincidem, que não pertencem a mundos únicos, que não pertencem aos mesmos mundos. Elementos que, quando dobrados uns sobre os outros, podem formar dispositivos, aparelhos de subjetivar e dessubjetivar, de dobrar e desdobrar-se no vivido.

7.6 Leitura-cenários e vozes:  investigações

            Assim, nas dobras excessivas do instante e seu vozerio, o cenário deste projeto, que se quer ele mesmo dispositivo, é também outro dispositivo: um objeto de leitura-escrita, tomado como dispositivo investigativo. E, na leitura-escrita deste projeto, nas dobras destes dispositivos, uma questão se faz: investigar a leitura-experiência. Fazer da leitura  um fazer-manual de escrita. Escritas que agenciam vozes que deixam vazar o intensivo da experiência da leitura, adotada como processo vivencial, como dispositivo.
            Assim como, neste dispositivo-projeto, há um dispositivo dobrado no outro (o dispositivo leitura dobrado sobre o dispositivo escrita), também a investigação da pesquisa que se realiza, a exemplo do que acontece com a configuração dos dispositivos, apresenta dobras: uma qualidade de escrita dá voz à vivência do tecer, torna audível sua intensidade e se dobra singularmente: trata-se de um tecer-escrever de mãos femininas. Mãos femininas que, na dobra de seus escritos, deixam vazar intensidades que remetem ao corpo, a estados uterinos, fecundos e disformes que se dobram, aproximando-se do indizível, do silêncio, da criação. Que apontam para um determinado modo de escrita: uma escrita que dá expressividade à experiência. Tornando visível a erótica da experiência ao amplificar as intensidades dos dizeres, criar ruído nas palavras, dilatar a espessura dos enunciados, e fazer ecoar gritos, urros ou sussurros entre as linhas que se escrevem.




8 FIAR A LEITURA, FIAR A ESCRITA




Escrever é procurar entender,
é procurar reproduzir o irreproduzível,
é sentir até o último o sentimento que
permaneceria apenas vago e sufocador.
(LISPECTOR, 1999, p.134)



            Leitura, arte do corpo, mão. Escrita, arte do corpo, mão. Leitura-escrita, arte de mão que compõe tecido outro com os restos, as sobras dos relatos de um experienciar. Um experienciar de corpo e mão na fiação. Leitura-fiação. Escrever que fia. O lido-corpo agencia a escrito-texto. Configuração provisória na dobra de um pesquisar. Pesquisar a arte do corpo na fiação. Pesquisar a voz do corpo na fazeção. Formação de escrita outra na leitura mesma. Fragmentos-lidos. Reunião de escritos-experiências. Anotações soltas. Restos de experimentos de corpo. Feitura de dobra outra na composição de um corpo-leitura-escrita-pesquisa na fiação. Uma leitura-escrita brotada de um campo. Do contato com escritas fragmentos em leituras fragmentos. Anotações nuas. Corpo nu que escreve. Corpo nu que lê.

O corpo nu é o corpo da dobra
o que sobra
depois e antes de tudo
 o que cobre
adereços
(MACIEL, 2010, § 3)
           
[...] somos feitos de linhas.
(DELEUZE; GUATTARI, 2008b, p.66).

8.1 Os vestidos de Maria Amália

            Longe de querer um enfoque nostálgico, essa crônica pretende uma reflexão sobre o tempo feminino engendrado pelas artes-manuais. O que se sente, pensa, lembra e se movimenta enquanto sentamos calmamente para tecer artes feita pelas mãos? Atividade promotora de um tempo feminino de origem remota, ancorado no movimento sutil do corpo que parece ser o mesmo tempo do aninhar, do zelar, do aquecer o outro, o mundo e a si mesmo. Tempo outro, diferente daquele que move as demandas sociais modernas.  Tempo elástico,  suspenso entre o coração e o ventre. Tempo movido por mãos que sabem sem saber, que fazem fazendo pela sabedoria do corpo. Tempo feminino que afirma e constitui.
            Tomando café da manhã em um hotel do Triângulo Mineiro, escutei um depoimento interessante de uma educadora. Na época dos preparativos para o casamento de minha filha, disse ela, resolvemos fazer uma lembrancinha diferente para as madrinhas e convidadas mais íntimas, como avós e tias: um pequeno vestido de noiva, costurado e bordado à mão. A mãe zelosa se emocionou ao partilhar o que sentiu durante os meses que antecederam ao casamento da filha única enquanto costurava, noite após noite, os pequenos vestidos de renda, seda, pedrarias e brocados. Para ela, mais do que a festa, mais do que a sensação de "passarinho deixando o ninho", mais do que todas as outras emoções que  a atravessavam naquela época, o costurar dos pequenos vestidos possibilitou uma vivência muito forte e profunda em relação às sensações que o casamento da filha promovia. Fiquei pensando nesse poder das manualidades. As mulheres, desde o começo do mundo, se dedicam de algum modo às artes-manuais. Até o pós-guerra, quando a industrialização terminou de tirá-las de casa, afastando-as ainda mais das lidas domésticas, dos filhos, das agulhas e linhas, todas as mulheres tinham íntima relação com atividades feitas com suas próprias mãos envolvendo panos, fios e lãs. Sentar-se serenamente para costurar é uma atitude que permite a reflexão, cria um tempo sem tempo, um espaço de sutil meditação. As mãos hábeis executam a tarefa e o pensamento viaja, se organiza, lembra, elabora. Enquanto no colo, o trabalho descansa, os olhos se perdem no horizonte da mente em total suspensão. Instante parado no tempo oculto da vida. Vida suspensa no tempo do corpo. A retomada da costura parece trazer de volta o estar no mundo. As ideias se organizando ponto a ponto promovem uma força que amplia a capacidade feminina de gerar o mundo em seu próprio corpo. Costurar, bordar, fiar, tecer, até mesmo cozinhar, são atividades culturalmente vinculadas às mulheres desde o início dos tempos e que hoje estão cada vez mais distantes de nós. No lugar desses afazeres, outros que passam longe dos colos, passam rápido por mãos ansiosas e deixam pouco o que pegar e admirar.

9 FIAR A ESCRITA, TECER A ESCRITA, BORDAR A ESCRITA



De qualquer coisa,
fazer uma matéria de expressão.
(KASPER, 2006, p. 204)




            Um querido: tese-viral. Um intento: tese-contágio. Escrita-contaminação. Leitura contaminada. Respingos do fazer manual no escrito da tese. Costurar a tese, tecer a tese, bordar a tese. Um fazer múltiplo contagiante. Artes-manuais feito vírus de gripe asiática, feito peste bubônica, feito sorriso de bebê. Espalhar impurezas no corpo da tese. Introduzir um corpo estranho. ...processo inflamatório que perturba a ordem natural do corpo... Não mais preto no branco. Não mais máquinas reprodutoras de cópias. Não mais caneta preta. Não mais lápis grafite. Não mais borracha. Erros aparentes, visíveis, abertos ao encontro. Cada página manuseada, costurada, colada, pintada. ...invasão tecidual... A mão na página diz do instante. A mão na página diz do útero. Que diz daquilo que brota na voz enquanto borda, tece, fia. A mão na página diz do incerto, do urro. Dito maldito em simultâneo com o pintar unhas em mãos que cuidam da infância, que alimentam, zelam pela casa, pela educação. Uma mulher e suas agulhas: atividade manual que não dá nem para os alfinetes. Uma mulher abissal: útero vazado, contaminação desigiênica, corrimento em sangue e pus. Penélope, a casta-fiel-que-cala-e-aguarda, dança de mãos dadas com Baubó, a desdentada-das-pernas-abertas-que-gargalha. O útero-Crisaor, monstro gerador de monstros. Irmão gêmeo do alado Pégaso, o branco, o belo, o inteligente. Uma escrita suja de senso comum. Pensamentos com imagens ocupando lugares. Escritas do que se sabe mal. Escritas na extremidade do próprio saber. Dessaber. Escrita ignorância. Desciência. Coisas soltas que retornam e se misturam a outras. Impropriedades. Inconsistências. Incoerências. Eugenia impossível. Deseducação. Escrever de corpo-mão-útero. Pesquisar de mão-corpo-útero. A mão conectando o grito do corpo. Corpo oco. Víscera maldita.  Desarte.  Desformar.  Deslimpar. Desprontar. A lã em contato com o papel. Mancha de tinta. Rabisco. Mancha de gordura, orelha. Página amassada. Desfilosofia.  Um querido: escrita-viral. Um intento: escrita-contágio. Pesquisa contaminada pelo fazer cotidiano. Pesquisa contaminada pelo fazer ordinário. Nada de mais. Nada de erudito. Nada de especial. A mesmidade ocupando lugar. A mesmidade do cotidiano como broto vivo. A mesmidade do ordinário como intempestivo.


9.1 Fazendo-me ao me desfazer: escrita de si ou escrita do eu?



Que importa quem fala?
(FOUCAULT citando BECKETT, 1969/2002, p. 34).


            Escrevo em cadernos-diários há quase vinte anos. Não são textos lineares, memoriais ou desabafos, mas registros dos processos em curso, atravessados por anotações de agenda, colagens, fotos, citações colhidas, lidas ou ouvidas, frases soltas e ideias que me ajudam a desenvolver palestras e a compor crônicas. Essa mesma experiência narrativa tem sido aproveitada em oficinas de arte-manual que costumo ministrar há alguns anos para adultos, em especial, professores e pessoas ligadas de alguma forma à educação. O objetivo primeiro dessas oficinas é a observação da própria aprendizagem. Quem se inscreve, normalmente percebe em si, ou na sua maneira de ensinar, algum incômodo que gostaria de ver investigado. Há casos bem objetivos como uma lateralidade cruzada mal observada desde a infância. Mas também existem situações em que o profissional de educação está insatisfeito com sua forma de atuação docente e procura buscar uma maneira mais orgânica, menos intelectual de vivenciar a educação. Durante a oficina de manualidades, questões relacionadas à Pedagogia Waldorf são abordadas, especialmente, quanto à presença das artes-manuais no currículo. Entre as dinâmicas propostas para o trabalho, sugiro a adoção de um caderno-diário, onde cada participante poderá registrar suas impressões.
            A escrita de si sempre foi um assunto que me interessou. No entanto, em uma reunião de orientação, antes mesmo de o primeiro ano letivo do doutorado começar, a temática “escrita de si ou escrita do eu” se fez questão. Agora, retomando trechos do memorial que escrevi em 2010, percebo o quanto escrever desde em primeira pessoa, desde uma centralidade do eu autoral, se tornou tarefa difícil. Os exercícios praticados para impessoalizar a escrita, em uma tentativa de descentralização da função de autoria, descolaram-me de uma escrita do eu, entendida, aqui, como aquela onde o autor fala de sua própria vida, seus sentimentos e pensamentos com o objetivo de expor questões sobre ele mesmo. Não que escrever em primeira pessoa seja indicativo único de uma escrita do eu, ou que um dizer impessoal garanta configurações outras do sujeito que escreve, mas são exercícios que ajudam a pensar a questão da autoria como um desfazimento do eu. “Isso porque, no duelo contra a força do hábito autoral, são as forças da impessoalidade, e não só da anonímia, que aí emergem. [...] O próprio Foucault (2001, p. 268) o dirá: ‘[...] trata-se da abertura de um espaço onde o sujeito que escreve não para de desaparecer’” (AQUINO, 2011, § 34-35).
            Essas páginas mais molares na qual venho escrevendo do vivido no doutoramento, mesmo que tenham sido elaboradas de forma a tentar quebrar a linearidade e a centralidade do autor, estão sendo um exercício desafiante, pois aprisionam a escrita em sua dimensão comunicante, apoiada em noções de coesão e coerência que perdem sentido e potência na dimensão do trabalho que se pretende empreender. Por isso, a opção de permanecer nesse viés comunicativo por algum tempo deve ser entendida como uma configuração passageira,  provisória, apenas um pouco de possível.

A inteligência vem depois...
(Adaptado de DELEUZE, 1976/2003, p. 21)



















10 FUI AO ARMARINHO: HÁ DE SE FALAR DE UMA METODOLOGIA


Todo método é uma ficção
(Barthes citando Mallarmé)



            Vou falar, mas ainda não sei bem dizer disso, tá? Uma coisa que eu estou tentando elaborar para dar língua à questão metodológica no projeto de qualificação é a forma como atuo na escrita. Dizer disso para descrever uma espécie de metodologia de escrita.  Por enquanto estou apelidando esse procedimento de Fui ao armarinho. Então é assim: fui ao armarinho, quase todo mundo sabe o que é um armarinho, mas explico: é aquela loja que vende artigos para artes-manuais: botões, linhas, fitas, lãs, essas coisas. Bem, quem vai ao armarinho, muitas vezes, nem sabe o que vai fazer ainda. Tem aquela potência do fazer movendo, parece uma coceira que dá na mão, no corpo todo. É uma vontade forte, sabe? Se quer fazer algo. O primeiro momento é o fazer: se tem de fazer algo: bordar, costurar, tricô, crochê, não importa, qualquer trabalho-manual. Aí, se vai ao armarinho e sai de lá com um mundo de coisas que nem se sabe se vai combinar uma coisa com a outra. Faço assim: eu pego aquilo e espalho. Espalho tudo. Preciso de muito espaço. Espalho normalmente no tapete da sala, em cima da cama. Espalho aquilo. E a partir daquilo que está bem espalhado, aí eu vou construindo o objeto. O movimento de construção vem antes da ideia. A ideia vem depois, do contato com os elementos: tecidos, fios, lãs, essas coisas. Vou movimentando, olhando aquilo, separando, juntando. Aí, desse contato, a ideia vem. Foi assim desde o projeto de pesquisa, eu fui ao armarinho. Não tinha a menor ideia de como escrever o projeto. Aí, peguei tudo que eu tinha lido, livros, apostilas, teses. Peguei tudo que me afetava e espalhei. Fiquei mexendo naquilo, vivendo com aquilo uns dias. Dormindo no meio daquilo, sabe? Tudo espalhado em cima da cama. Aí, depois eu fui pegando e escrevendo, copiando, lia uma coisa, aquilo me dizia, eu escrevia, e isso foi compondo. Eu não tinha percebido essa metodologia, só vi agora que estou às voltas com o projeto de qualificação, olhando para todo esse processo de doutoramento. Pensando bem, é sempre assim mesmo comigo, primeiro eu mexo, depois eu penso. Um perigo. Para escrever a qualificação, também estou fazendo isso. Primeiro eu imprimi tudo o que eu escrevi, desde que resolvi fazer o processo seletivo, duzentas e tantas páginas, sessenta e um textos. Depois, eu comecei a mexer naquilo, andava com aquela pilha de textos para cima e para baixo, fazia levantamentos, assinalava palavras recorrentes, juntava de um jeito, de outro. Fui mexendo, mantendo contato, ficando presente. Acho que se eu precisar mudar o nome da metodologia, para um nome mais acadêmico, vai ser algo como “metodologia do contato-improvisação”, sabe aquele método de dança? Ou então: “metodologia da presença”. Afinal, é só o que eu posso garantir: ficar na presença daquilo, o resto é um risco, se vier, vem depois...

10.1 Qualquer entrada é possível: desde que as saídas sejam múltiplas


O meu plano é continuar nos intervalos...
(WOLF, 1941/2008)


            Nos experimentos de pesquisa apresentados neste projeto, propôs-se um investimento no intensivo do encontrar-escrever. Abertura ao intempestivo potencializador de corpo e escrita. Escapamento de uma certa pesquisa que se dá como intelectualidade aprisionante. Vazão de uma certa escrita acadêmica que se dá como aparelho esterilizador. Intentou-se bordar a pesquisa com pontinhos miúdos e delicados, mas manchá-la de sangue e espalhá-la pela cama. Espalhá-la pelo corpo todo. Invaginá-la. Dilatar a fronteira entre a pesquisa e a vida. Uma vida qualquer. Fazer da pesquisa um lugar comum. Desdeusá-la. Incertá-la. Aproximá-la da carne, no exercício de um pesquisar sentível. Um pesquisar de tato. Pesquisar de mão. Instituir uma erótica-escrita junto à pesquisa acadêmica. Desanestesiar. Inventar escrita-pesquisa movente, intranquila, no aparente calmo espaço do fazer manual das artes domésticas. Expor a tecelã Penélope incrédula, contaminada pelo que não é, pelo que não sabe. Desvesti-la de uma fantasia milenar. Desfazer-se do mito, no movente do cotidiano. Projeto de qualificação constituído na habitação de abismo conhecido. Incertar-se na intranquilidade do mesmo. Desiludir-se do aparentemente simples. Projeto de qualificação como exercício de montagem. Desordenação de viveres. Inventação de sentidos para o vivido no pesquisar-escrever. Imaginamento de tese que justifica o vivo. Abuso de artifícios, alegorias, acessórios na incompetência em constituir projeto-grito. Radicalidade expressiva. Investigação de impossíveis. Apontamentos de escrita em despotência minoritária, em despotência feminina. Um feminino-pesquisar menor. Muito menor. Inresistente. Disparar escrita-manual carnada nas experiências de corpo, de corpo em contato com o cotidiano mais comum. Corpo em contato com a caixinha de costura, com o agulheiro de flor. Mãos que se roçam, língua que se dá. Dar língua, cor. Pintar o vivido com a voz da pesquisa. Pintar a pesquisa com a voz do vivido. Aproximar-se do proibitivo ser da impesquisa, do inacadêmico. Exercícios de limiar. Exercícios de borda. Pesquisar ensaiar pesquisar ensaiar pesquisar ensaiar. O pesquisar e escrever no primeiro ano de doutoramento como um ensaio. Exercícios de laboratório para colocar o corpo em movimento. Esfoliar a pele para torná-la sentinte. Ocar o corpo para vibrar em campo. Abrir-se ao campo e pesquisar educação com o útero. Útero-entrada. Útero-saída. Útero-porta. Mistura de sangue pisado, vida que nasce, dejetos. Fazer desuso de um pesquisa-educação esterilizada. Agora, abrir-se às incertezas de uma outra etapa da pesquisa. Descobrir um lugar e habitá-lo provisoriamente. Resistir a inventar funções, paraquês. Agora, abrir-se ao campo e encontrá-lo. Dar-se ao campo. O resto se faz com gritos...






















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[1] (Lygia Clark, carta a Mário Pedrosa, 1967, In LINS, Sônia. Artes. Universidades do Texas, 1996).

[2] Invenções a partir de e fragmentos soltos de A dobra: Leibniz e o barroco, de Gilles Deleuze (1988/1991).

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